RÚBRICA SEMANAL: "CAIR, LEVANTAR, E VOLTAR A TENTAR" Por Diogo Ferreira

(Foto DR Diogo Ferreira)

Tudo começa uma semana antes, começas a sentir aquelas cocegas na barriga, sentes uma sensação que nem tu sabes que quer dizer, uma mezcla de nervos, vontade e ansiedade; o dia de antes jantas o mais cedo possível, fazes a mala e deixas o barrete esticado no chão, vais para a cama em nada que terminas, deitas-te, rezas, e pedes ao senhor que esteja a teu lado e de teus companheiros amanhã, por fim acabas por adormecer, mal te descuidas, já é de manhã, estas contente, estas nervoso e ansioso, mal consegues comer, "picas" qualquer coisa, algo que mal te cabe na cova do dente, mas que engane o estômago, e vais ter com o teu Grupo ao sitio e hora marcada, chegas, cumprimentas os teus companheiros, a tua segunda família, falam dos toiros e das corridas enquanto esperam por quem falta, o grupo fica completo, e faz-se a divisão pelos carros, no caminho escutas um fado, ou um flamenco, uma musica que te relaxe, vais olhando pela janela, vais vendo a natureza, o sol brilha, estamos a 2 horas da grandiosa corrida de toiros; chegas ao destino, e ai acabaram as conversas em segundo plano, as piadas ou cantigas, sentas-te em roda com todos os teus amigos, o cabo fica no meio, a discursar, encoraja-te sempre avisando da responsabilidade que ha que ter, tiras a roupa, começas pelas meias rendadas que mandas-te fazer no Ribatejo, aperta-las com fita de maneira a que não te descaiam, de seguida vestes a camisa, vais abotoando botão a botão, com cuidado que não se te suje ou arrugue, vestes os calções, calças-te, pões os suspensórios, de seguida vem a gravata, e depois na rua com a ajuda do teu companheiro, eis que te enrolas na cinta vermelha, por fim vestes a Jaqueta, e sabes que está na hora de ir aos Toiros; o cabo diz quem vai as cortesias, e distribui os "Forcados", eis então que começa a música na praça, desejas sorte ao grupo com quem partilhas essa tarde/noite, benzeste, e pisas a arena com o pé direito em primeiro lugar enquanto pões o barrete no ombro, vais abrindo como se de um leque se trata-se, ja em frente do director de corrida, rezas e pedes a Deus que esteja com todos vos; as cortesias terminam depois do "desfilar" dos cavalos que transportam os toureiros em cima, o primeiro Toureiro sai a Praça, aquece o cavalo, e dá ordem ao Director que este mande tocar para a saída do Toiro, abrem-se as portas dos curros, e ao longe meio no escuro, vês uma cara imponente, que sai a arena com um salto soprando, vez como investe nos primeiros "capotazos" do bandarilheiro, estuda-lo como se de um teste se trata-se, e começas a "aquecer-te", rodas os braços e pulsos, flectes as pernas, moves a cabeça de um lado para o outro, a adrenalina e vontade de pegar é tanta, que esqueces aquela sensação de ansiedade e duvida, para saber se és tu, tiras o barrete da parede, como sinal que queres aquele toiro, o cavaleiro está quase a terminar a lide, e sentes uma "pancada" firme e confiante, ao mesmo tempo que se faz acompanhar por uma voz dizendo, "Vamos ao toiro...", nesse momento esqueces todos os problemas, estas ali para pegar toiros, e tens uma família atrás de ti que te da a confiança final que precisas, toca a trompete, benzes-te tantas vezes quanto possas, e saltas a arena, a multidão fica atenta na expectativa, brindas ao publico, pões o barrete na cabeça, enquanto o touro do outro lado da praça investe nas tábuas, gritas bem alto ao mesmo tempo que bates as palmas, Toiro Toiro Toiro..., pode estar uma praça inteira gritando, que tu não ouves mais nada que o arfar do animal, caminhas, das passos firmes e elegantes, e continuas, toiro toiro toiro, quando chegas a certa distância, sabes que está na hora, carregas com firmeza, e gritas bem alto, toirooooo, toirooooo, o touro arranca, recuas, "sentas-te" como se de uma cadeirinha se tratasse, a reunião saiu bem, só tens de aguentar os derrotes do Toiro, começas a sentir mãos a agarrar-te, sentes-te a embater contra corpos, e quando parece que esta quase eis que o touro foge do grupo e tira a cara de repente, atirando-te ao chão, levantas-te rápido e apanhas o barrete, o publico esta-te a bater palmas, o grupo forma de novo, depois de ouvir as indicações rápidas do cabo, andas e  falas toiro toiro toiro, carregas o touro arranca, e agarraste como se de uma lapa te tratasses, agarras-te com unhas e dentes, o grupo fecha com vontade, aquele abraço que só quem ali esta sabe explicar, o touro para, olhas o rabejador que conta até três, e larga-se o toiro ficando apenas ele, a pega foi consumada, e talvez foste a melhor pega da Tarde, pensas que todos os treinos valeram a pena, que todos os princípios que te foram ensinados são verdade, que não se deve desistir nunca, que o que ha que fazer é...

CAIR, LEVANTAR, E VOLTAR A TENTAR....

Diogo Ferreira